Há quatro anos ir para a escola se tornou mais divertido para cerca
de 500 crianças da rede municipal de ensino de Salvador. Elas fazem
parte do projeto Karatê nas Escolas, desenvolvido pela Secretaria
Municipal da Educação Cultura, Esporte e Lazer (Secult). As instituições
onde as aulas acontecem são escolhidas pela estrutura oferecida e
número de vagas disponíveis. Atualmente, crianças de seis escolas da
capital contam com as aulas gratuitas, que são ministradas no turno
oposto ao do ensino regular.
De acordo com a coordenadora do projeto de Educação Esportiva da
Secult, Ivone Portela, as aulas têm o intuito de proporcionar aos alunos
do ensino fundamental a oportunidade de participar de uma atividade
esportiva saudável e contribuir para a redução da exposição das crianças
às situações de risco e vulnerabilidade social quando estão fora da
sala de aula.
Ivone Portela explica que a escolha do karatê não foi ao acaso: “Foi
principalmente por causa da utilização da sua filosofia no processo de
formação acadêmico e humano dos alunos: união, amizade, respeito e
disciplina. O karatê trabalha de forma positiva, além de contribuir no
processo de elevação da autoestima, amor a família e o sentimento de
solidariedade”, enumera.
Karatê-Dô - O projeto, que tem a supervisão da
Federação Baiana de Karatê, ensina às crianças a vertente lúdica e
pedagógica do Karatê-Dô, que se diferencia do ensinado nas academias,
por exemplo, como explica o mestre Geraldo. “Aqui, nós ensinamos o
karatê pedagógico, voltado para a inclusão social". Pontua.
Apesar da diferença nas vertentes ensinadas, os títulos conquistados
pelos pequenos lutadores da escola Novo Horizonte provam que com os
ensinamentos da versão lúdica e educacional do karatê também é possível
competir e se tornar um campeão no esporte, como explica o presidente da
Federação: “Ao serem apresentados ao Karatê-Dô, se houver aptidão para o
esporte, é possível que o aluno se torne um novo talento em artes
marciais, podendo se destacar no meio esportivo e garantir uma vida
melhor através do karatê”, afirma Carlos Rangel.
As atividades, que são restritas aos alunos do ensino fundamental da
rede municipal de ensino, acontecem duas vezes por semana, sempre no
turno oposto às aulas, o que para a vice-diretora da escola Novo
Horizonte, Ana Cláudia de Jesus, é um benefício para os alunos. “Além de
oferecer uma prática esportiva e manter as crianças ocupadas no período
oposto às aulas regulares, após as aulas de karatê extra-curriculares,
as crianças recebem um lanche, o que garante mais uma alimentação do
dia”, pontua.
Custo - Os alunos não pagam nada para praticar o
esporte milenar, a farda e todo material necessário são oferecidos pela
Secult. Quando há alguma competição externa, o transporte, inscrição e
lanche também são custeados pela secretaria. A vice-diretora lembra que o
projeto dá a chance das crianças de baixa renda terem acesso a uma
prática esportiva. "Não é um esporte barato, as crianças da periferia
não teriam acesso se o projeto não existisse".
O mestre em karatê dos alunos da Novo Horizonte, Geraldo Silva
Scrhamm, que trabalha na escola desde a implantação do projeto, concorda
com a vice-diretora. Segundo ele, o karatê ainda é um esporte de alto
custo, que grande parte dos alunos não teria como financiar. "A
inscrição para o campeonato baiano custa R$50, a maioria das crianças
daqui não teria esse dinheiro para investir", pontua.
Campeonatos – A escola Novo Horizonte já formou
diversos campeões no tatame. Quando questionado sobre as conquista dos
pequenos, o mestre, que é conhecido pela rigidez e disciplina na hora
das aulas, se enche de orgulho e conta a história de alguns dos campeões
mirins.
Daiane de Jesus, de 12 anos é uma delas. A menina, que pratica o
karatê há dois anos, é faixa amarela e já ganhou uma medalha de ouro.
Questionada sobre a dificuldade para alcançar a precisão nos golpes, a
pequena campeã abre o seu sorriso tímido e dispara: "Que nada, é fácil”.
Outra revelação do esporte na escola é Carolina Santos, de apenas 10
anos. A garotinha, que não teme os golpes no tatame, também já
conquistou a faixa amarela e algumas medalhas. "Fui campeã de luta",
conta, orgulhosa.
Os alunos da escola já participaram do Campeonato Baiano de Karatê,
campeonatos internos e outros promovidos pela Federação, Torneio de
Santo Antônio de Jesus, onde conquistaram medalhas de ouro, prata e
bronze em diversas categorias e também dos jogos intermunicipais, onde
faturaram uma medalha de ouro.
Para a coordenadora da escola, as conquistas dos pequenos influenciam
diretamente na autoestima das crianças. "O fato de estarem 'invisíveis'
para parte da sociedade é massacrante, os campeonatos devolvem a
autoestima para eles", pontua.
Ana Cláudia ressalta ainda que as conquistas e a prática esportiva
também influenciam na relação da família com a vida escolar dos
pequenos. “Os responsáveis ficam orgulhosos e até se aproximam mais da
escola”.
Fonte: UOL
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