Ex-cortador de cana, prefeito eleito, com a mãe dele em Itacoara, RJ
Na sala, foto de Che Guevara e bandeiras de Cuba e Venezuela. O discurso
sobre socialismo embalou a campanha em Itaocara, interior fluminense,
que elegeu o primeiro prefeito pelo PSOL no país, para surpresa da
direção nacional do partido.
O ex-cortador de cana Gelsimar Gonzaga, 48, ganhou a disputa no
município de 22 mil habitantes, de economia basicamente rural. Usou um
Fusca 1973 como carro de som e repetiu a mesma gravação de dois minutos e
dez segundos nos 45 dias de campanha de rádio. Venceu com 45% dos votos
válidos.
Gonzaga começou a trabalhar aos sete anos como cortador de cana. Ajudava os pais e os sete irmãos a sustentar a casa.
O prefeito eleito saiu da cidade aos 18 para servir ao Exército na
capital. No Rio, trabalhou como bancário e integrou o sindicato da
categoria. Filiou-se ao PT, do qual saiu em 2004, em razão da reforma da
Previdência proposta pelo então presidente Lula. Antes ídolo, o petista
hoje é alvo de críticas.
Mas Gonzaga reconhece que "a vitória do Lula ajudou muito, porque
contribuiu para quebrar muitos preconceitos contra a classe pobre, quem
não tem nível superior", disse ele. Gonzaga diz que sua vitória se deve ao desemprego e às falhas no sistema
de saúde e educação. Para o socialista, a vitória do PSOL em Itaocara
"pode ser exemplo para as capitais".
Presidente do sindicato dos servidores municipais de Itaocara, para onde
voltou em 1993, Gonzaga não limita sua atuação à cidade. Participou de
ocupações do MST em Campos, no norte fluminense, e foi ao Pinheirinho,
em São José dos Campos (SP), participar de movimentos sociais contrários
à retirada dos moradores do local.
O socialista quer formar conselhos populares para cada bairro definir
suas prioridades. Planeja audiência com a presidente Dilma (PT) e o
governador Sérgio Cabral (PMDB) pela construção de um hospital na
cidade.
"Espero que o Edmilson [Rodrigues] vença em Belém para eu não ser
vidraça sozinho. Vai ser um bom laboratório para o PSOL administrar uma
capital e uma cidade do interior", disse, referindo-se ao integrante do
partido que disputa o segundo turno na capital paraense com Zenaldo
Coutinho (PSDB).
Para ele, o PSOL no poder corre o risco de se "desvirtuar". Na análise
do prefeito eleito, as alianças são as responsáveis pelas mudanças.
Apesar disso, diz que tentará compor maioria na Câmara. O PSOL elegeu só um representante ao Legislativo, que tem 11 cadeiras. "Sou realista. Não sou intransigente. Converso com todo mundo
independentemente da filiação partidária. Quem é socialista não pode
discriminar ninguém. Não sou sectário", afirma.
Fonte: Folha de SP
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