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domingo, 5 de agosto de 2012

Classe C será decisiva na escolha dos novos prefeitos.

Cerca de metade da classe média tradicional brasileira está chateada com o aumento da fila nos cinemas (62,8%), quer produtos com versões diferentes para ricos e pobres (55,3%) e acha que a qualidade dos serviços piorou pelo aumento da demanda (48,4%). O motivo: tem mais gente com dinheiro para consumir o que antes era restrito a poucos abonados.

A má notícia para os descontentes é que esse pessoal, a nova classe média ou classe C, se consolidou como a maioria da população no Brasil – e, por consequência, tem cada vez mais peso para decidir sozinha quem deve administrar o município, o estado e o país.

As reclamações foram captadas por uma pesquisa do Data Popular, consultoria especializada no comportamento desses emergentes. O mesmo estudo, feito no ano passado, também elencou os oito principais valores na nova classe média. Pelo menos três deles são essenciais para entender como o grupo encara a política: a ligação com o bairro e a vizinhança, a batalha para educar os filhos e a tomada de de­­cisões a partir de informações e opiniões de confiança.

Assim como a elite, no entanto, os políticos em geral também não en­­tendem a nova classe média. “Existe uma dissonância cognitiva. O que é curioso é que a nova classe média se integra bem melhor com a iniciativa privada do que com o poder público e os políticos em geral”, diz o sócio-diretor do Data Popular, Wagner Sarnelli.

O problema, segundo ele, está ligado ao fato de que as pessoas que deixaram as classes D e E não sentem os efeitos práticos da política como sentem os do consumo. Além disso, a maioria vê a política com um aborrecimento. 

Sarnelli cita dados sobre otimismo do Data Popular para justificar a tese. Nas regiões Sul e Sudeste, onde os emergentes são considerados por ele como mais politizados, três a cada quatro representantes da nova classe média acreditam que a vida vai melhorar no futuro, enquanto no Norte e Nordeste a proporção dos otimistas é de quase nove para dez.

Outro motivo para o dis­­tanciamento da política é temporal. Especialista em pesquisas eleitorais, a cientista política da Universidade Federal do Paraná (UFPR) Luciana Veiga diz que é necessário dissociar o comportamento da nova classe média na hora de votar e na de consumir. “A classe C de hoje já estava inserida no processo eleitoral quando fazia parte das classes D e E. A mudança de comportamento político é muito mais lenta que o de comportamento de consumo”, opina a pesquisadora.

Números do Centro de Políticas Sociais da Fundação Getulio Vargas (FGV) comprovam que a classe C cresce constantemente desde meados dos anos 1990, mas só atingiu a maioria da população brasileira em 2009 (veja as informações no infográfico). Por outro lado, as eleições diretas para prefeito já haviam sido retomadas em 1985. 

A falta de identificação com a política tradicional, contudo, não quer dizer que a nova classe média está alheia ao processo eleitoral. Consultor político e professor de Comunicação Política da Universidade de São Paulo, Gaudêncio Tor­­quato define a lógica de escolha dos emergentes como uma questão de “geográfica corporal”. Segundo ele, o mapa da decisão começa no bolso, passa pelo estômago, chega ao coração e termina no cérebro.

Ou seja, a partir do momento em que as questões básicas de sobrevivência estiverem resolvidas, as decisões eleitorais da nova classe média serão mais elaboradas. Torquato ressalta que a ascensão social só faz bem à democracia brasileira. “O acesso ao consumo que essas pessoas tiveram nos últimos anos leva inevitavelmente a uma absorção de novos conhecimentos e à elevação dos seus padrões de cidadania”, diz o consultor.

Os prognósticos dele são imediatistas. Para Torquato, as disputas municipais de 2012 serão as eleições da classe C. “O candidato que souber entrar na micropolítica da nova classe média, dedicar-se às questões locais, com certeza é o que vai ter mais sucesso.”

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